Empoderamento feminino na literatura

A protagonista de “Confissões de uma Trintona Descolada” não empunha bandeira alguma. Desconhece as discussões sobre o empoderamento feminino. Não demonstra ter uma opinião formada sobre o aborto; não se manifesta sobre as cantadas na rua. Ela é bem formada, tem uma profissão (e uma posição na empresa) que até hoje são predominantemente masculinas, mas, nunca parou para pensar sobre o que isso representa.


Considera-se uma dona de casa eficiente e acha que isso um atributo importante. Tem prazer em dizer que consegue conciliar seus papeis de mãe, esposa e dona de casa com o de uma executiva agressiva, focada em produtividade, capaz de se doar pela empresa na qual trabalha. Dá a entender que é a principal responsável financeira de sua residência, mas, esforça-se para que seus filhos tenham uma boa imagem do pai.

Se por um tempo, ela esteve insatisfeita com o casamento e o tratamento recebido do marido, há muito, já não sofre com isso. Arranjou um jeito de se sentir feminina, realizada, feliz. É na cama que  se sente efetivamente plena.  Demonstra um tremendo jogo de cintura ao administrar relacionamentos amorosos com três homens diferentes, sem que um ao menos desconfie dos demais.

Ser uma executiva poderosa, ser a provedora do lar, manter casos extraconjugais… Não são esses atributos considerados masculinos? Seria nossa protagonista uma mulher “empoderada”? Empoderar uma mulher é dar ela papeis masculinos?

A protagonista vai desfiando suas confissões, aparentemente sem uma segunda intenção. Não pretende “fazer a cabeça” de ninguém, muito menos defender suas decisões. Mas, é impossível ler o livro sem pensar nas questões referentes ao universo que povoam as redes sociais e a Internet, de modo geral.

É inegável que, historicamente, foi reservado às mulheres um papel secundário na tomada de decisões, na confecção das leis, nos costumes, etc. No entanto, são inúmeros os exemplos que nos mostram que elas sempre foram capazes e muitas vezes agiram com muita coragem e mudaram o rumo da história. Também é fato de que as recentes conquistas femininas são o resultado de muita luta, da mobilização e da coragem daquelas que não se conformam.

Muitas entidades estão seriamente envolvidas com a questão do empoderamento feminino. Algumas iniciativas procuram equalizar as condições de trabalho de homens e mulheres e em muitos países, leis incentivam as mulheres a assumirem cargos políticos. O assunto está na ordem do dia no mercado da moda, nas discussões sobre o aborto e outras relacionadas à saúde da mulher.

Por outro lado, há uma turma que acha que há exageros nesse discurso de empoderamento feminino. São aqueles que dizem: “chega de mimimi”, ou seja, “deixa de frescura!”. Usam essa expressão para demonstrar que consideram um exagero uma mulher reclamar, por exemplo, de uma cantada que leva na rua. A reclamação vem do fato de que essas cantadas, no geral, são muito grosseiras.

O fato é que respeito é essencial em qualquer tipo de relação. E preconceito e discriminação não estão com nada.

Leia o Livro

Voltando à nossa protagonista, fico me perguntando como ela consegue fôlego para ser múltipla: profissional, mãe, dona de casa, esposa, amante, namorada… E tudo isso com muita eficiência. De uma coisa, porém, já tenho certeza: ela não perde seu tempo se perguntando se deveria ser assim ou assado, se está faltando algo, se está sendo boa o suficiente… Ela vai vivendo. E vivendo muito bem!

Comentários

  1. O livro é ótimo, a história é muito bem retratada, a personagem tem uma personalidade forte, capaz de administrar a vida profissional, família, filhos e "agregados"(não estamos aqui julgando o comportamento dela, se certo, se errado).

    Já o dilema da mulher é um assunto delicado. Crescemos em uma sociedade onde o papel da mulher vinha sendo secundário e agora surgem as executivas, as chefes de família, as tomadoras de decisões em meio ainda a algumas polêmicas.

    Não é uma questão de competição, mimimi ou qualquer outra coisa. Nós mulheres, buscamos respeito e oportunidade.

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    1. Ellen, em poucas palavras você fez uma análise bem lúcida do livro, da personagem e da condição da mulher nos dias de hoje. Parabéns!

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