Sobre Covid-19 e capitalismo

 BR 040, caminho de SL, 06 de julho de 2020. Segunda-feira.


Boa parte das pessoas insistem em imprimir um ar de normalidade à vida durante a pandemia. Por diferentes razões, acreditam que a Covid-19 é uma ameaça distante, que trata-se de uma invenção daqueles que torcem pelo fracasso do governo de Bolsonaro. 


Apesar das recomendações das autoridades de saúde e dos dispositivos legais que restringem a movimentação e aglomeração de pessoas, continuam fazendo suas festinhas, suas resenhas, comemorações. Os impactos econômicos da pandemia são gritantes. Milhares já perderam seus empregos ou tiveram sua renda reduzida. O amanhã é incerto, mas, sempre há o dinheiro para a cervejinha, a cachacinha… Um esforço tremendo é feito para se burlar a legislação e promover as festinhas clandestinas. 


Não importa que pessoas estejam morrendo de Covid-19. Pessoas morrem por diferentes causas. Não importa o risco de superlotação nos sistemas de saúde. É preciso estabelecer a normalidade. Porque a vida já é por demais sofrida e a pandemia é invenção da Rede Globo, da mídia de um modo geral, e daqueles que querem derrubar o Bolsonaro.


Milhares de pessoas perderam sua renda com o fechamento do comércio e da restrição de movimentação. Restaurantes, bares, lojas de roupas e diversos outros tipos de estabelecimentos tiveram que fechar as portas - boa parte deles para sempre. Essas pessoas ficaram divididas entre a necessidades de sobrevivência e de evitar o contágio. Preferem morrer de Covid-19 a morrer de fome. Essas pessoas têm razão: morrer de fome não tem graça nenhuma.


O outro grupo - o das pessoas que, por diferentes motivos, conseguem manter a renda mesmo em isolamento social, entende que o sacrifício (dos outros) é necessário nesse cenário catastrófico. Ambos os grupos trocam acusações nas redes sociais. Mais lenha para o discurso de ódio que permeia nossa sociedade nos dias de hoje.


Assisti, logo nos primeiros dias, à resistência de uma trocadora de ônibus em permitir que um velhinho viajasse. Afinal, ele fazia parte do grupo de risco e deveria estar em isolamento social. Não importava as razões do senhor para fazer aquela viagem. De repente, a presença das pessoas mais velhas nós ambientes coletivos passou a ser encarada como uma afronta, uma ameaça.


Passados dois meses, aquela trocadora e seus colegas perderam o emprego. Com a justificativa da redução do número de passageiros e decorrência da pandemia e consequente necessidade de cortar custos, a empresa implantou naquela linha o mesmo sistema que já vinha sendo adotado em outras: o próprio motorista cobra a passagem. Não importa que as condições de trabalho do motorista se deteriore ou que a viagem se torne mais demorada ou insegura. Importa que o CAPITAL seja capaz de produzir mais CAPITAL.



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