Desvendando o mistério da terra de Clara Nunes
“Agora, sabia que as palavras-chave eram luz, vida, prosperidade,
bem-estar, beleza, cultura, conhecimento e riqueza. Onde
encontrássemos isso, estaríamos encontrando o Magofeta.”
Desde então, não consegui me dedicar à qualquer outra atividade e, mesmo quando apaguei a luz, já na madrugada, para dormir, não consegui me desligar de seu enredo.
Eu já esperava há tempos pelo livro da Adriana; sabia de suas pesquisas. No entanto, nenhuma expectativa me preparou para o impacto desta mistura de ficção fantástica e registro histórico. O que só confirma minha a desconfiança de que a parceria com Jones Silva e Edna Pires
muito enriqueceria o trabalho da Adriana Andrade.
Muito já se pesquisou e escreveu sobre a história de Caetanópolis. Em “Fábrica: convento
e disciplina”, Domingos Giroletti nos apresenta um minucioso estudo sobre a formação da
sociedade industrial brasileira, principalmente a partir da criação da Companhia Cedro
Cachoeira e, por conseguinte, do surgimento da nossa cidade.
O livro “Bernardo Mascarenhas:desarrumando o arrumado, um homem de negócios do século XIX” resultou de uma rigorosa pesquisa empreendida por Alisson Mascarenhas
Vaz e traz, com riqueza de detalhes, a narrativa da criação da Fábrica do Cedro pelos
irmãos Antônio Cândido, Bernardo e Caetano Mascarenhas.
Paulo Tamm, com o seu “Uma dinastia de tecelões”, apresentou-nos uma versão romanceada da história da família Mascarenhas. Maria Helena Ribeiro situou no Cedro, o seu delicioso romance “Fazenda da Ponte”. Já Maria Merces Moreira, fez uma verdadeira declaração de amor ao povoado em “Aldeia de Outrora”.
Dezenas de artigos acadêmicos, dissertações e teses, depositados na biblioteca do
Museu Têxtil Décio Magalhães Mascarenhas, resultantes de pesquisas em seu acervo,
trazem luz à história do antigo arraial do Cedro, sob o ponto de vista de pesquisadores
de épocas distintas e de diferentes orientações acadêmicas.
“O Mistério…” no entanto, inova, ao apresentar a história de Caetanópolis como pano
de fundo para uma ficção fantástica, que em alguns momentos chega a flertar com
a autoajuda. Ou seria o contrário?
“A história mostra como a cidade é rica em talentos (reais) e como um ser sobrenatural age para que a magia da arte aconteça.”
Adriana Andrade
|
Logo nas primeiras páginas, ficamos sabendo da existência de um ser sobrenatural,
o Magofeta, uma mistura de mago e profeta, um ser que se manifesta para diferentes
pessoas, em diferentes épocas e de diferentes formas. A partir daí, acompanhamos a
saga do Sr. Martins, um sujeito racional, em busca de evidências que comprovem
(ou refutem) a existência de tal ser misterioso.
"O Magofeta" - ilustração de Julio Ferreira |
O Magofeta, com suas profecias, determina escolhas e trajetórias de vida, de tal modo,
que chego a desconfiar de que seja, na verdade, um manipulador. Mas, então,
descobre-se trata-se de uma energia, um “algo diferente no ar”, que “fazia sentir a vida
e o mundo mais leves”.
No livro, a história de Caetanópolis é composta da soma das histórias de alguns
de seus personagens ilustres. Ilustres pelo talento na música, nas letras e nas mais
variadas formas de manifestações artísticas. Nisso, também, é inovador. Clara Nunes,
a mais conhecida e a que dá título ao livro, aparece apenas a partir da página 109, numa
clara demonstração de que, embora seja a mais representativa, está longe de ser o
único talento da cidade ou o único capítulo de sua história.
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