Até quando toleraremos a violência?
Santana de Pirapama (MG), 31 de dezembro de 2015. (quinta-feira)
São 15:30. Dentro de apenas
algumas horas terá início um novo ano. Essa é uma data de rituais: fazer um
balanço do ano que passou; fazer promessas para o ano que se inicia. No
entanto, não farei uma coisa nem outra. Não quero avaliar minha trajetória até
aqui, não pretendo fazer planos para o futuro. Nas atuais circunstâncias
prefiro viver um dia de cada vez.
Minha história tem sido contada exaustivamente por mim e por outros. Especialmente nesses últimos tempos. Não que eu tenha descoberto a cura da AIDS; ou encontrado uma solução para os problemas do Oriente Médio. Infelizmente minha história é até bem comum. Sou mais uma vítima da violência. Estou afastada de minhas atividades laborais e sem nenhuma perspectiva de futuro.
Muito embora queira acreditar que
essa minha incapacidade é momentânea, não posso deixar de pensar nos prejuízos
inúmeros da violência. Pessoas que deixam de trabalhar e produzir representam
apenas o menor desses males. Famílias estão esfaceladas, crianças crescendo sem
pais, mães que não podem abraçar seus filhos.
A humanidade evoluiu em muitos
aspectos. Vivemos em um mundo extremamente tecnológico, impensável décadas
atrás. A cada momento novas descobertas da medicina aumentam as expectativas de
vida. A capacidade de mobilidade pela superfície terrestre cresceu enormemente,
promovendo um fluxo enorme de pessoas e produtos.
Nossa essência, no entanto,
permanece a mesma. Mesmos vícios, mesmas paixões, resultando nos mesmos crimes.
Há outra justificativa para que a guerra esteja tão presente nos dias atuais?
Não só a guerra entre povos e nações; a guerra mostrada na TV. Não só os
ataques do Estado Islâmico. Mas, a guerra entre pessoas de uma mesma sociedade,
entre facções criminosas, entre milícias. A guerra do tráfico de drogas.
As maiores vítimas de todo tipo
de guerra são pessoas que não optaram por ela. São populações civis vítimas de
atentado quando jantam em um restaurante, assistem a um show de rock, visitam
lugares turísticos após trabalharem por anos para juntarem um dinheirinho. São
pessoas que não encontram espaço no “asfalto” para instalarem suas moradias e
por isso têm que morar nas “comunidades”. Acabam por serem vítimas das balas
perdidas.
Pessoas são obrigadas a deixarem
sua casa e seu país e vão engrossar a turba dos refugiados, expatriados, espoliados
de seus bens e de sua história. As imagens na TV impressionam. Porém, não só a
Síria ou a África expulsam seu povo. Entre nós brasileiros há muitos
expatriados da violência. Famílias são obrigadas a deixar o morro. Depois de ser
rendida duas vezes em casa por assaltantes de banco e ter minha filha
sequestrada por um dinheiro que não é meu fui obrigada a deixar casa e emprego.
Sou refugiada embora em meu próprio país.
É preço da violência. Apesar de todo
o progresso da humanidade. De todo o desenvolvimento tecnológico e científico.
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