Uma imagem, muitas leituras.

Muito do que sei, aprendi com minha avó. Meus sobrinhos poderão dizer algo semelhante quando tiverem a minha idade. Afinal, aprendem tanto com o vovô! Meu pai, de modo muitas vezes inconsciente, vai imprimindo na memória de seus netos sua visão de mundo, moldando assim, traços importantes em sua personalidade.


Avô e seus dois netos. O avô (Daniel) carrega a bandeira da Folia de Reis; os netos estão caracterizados como reis magos: Gaspar (Daniel) e Baltazar (João Pedro)


Esta foto foi tirada em 27 de janeiro de 2018, na comunidade de Mel Tanque, município de Santana de Pirapama, Minas Gerais, Brasil, em dia de janta de folia. Nela aparecem um avô e seus dois netos. O avô carrega a bandeira de Santos Reis.

A bandeira de Santos Reis aparece à frente dos guarda-mores (representantes dos reis magos: Gaspar, Melchior e Baltazar), na folia de reis. Na bandeira aparecem as figuras dos três reis, montados em seus dromedários, e da estrela que os guiou até a Lapa de Belém, onde estavam hospedados São José, Nossa Senhora e o Menino Jesus. A bandeira que aparece nesta foto pertence à folia de reis dos Bertoldos. O avô, que é folião veterano desta folia, aparece na imagem com um indisfarçado sorriso. Está pleno. É veterano, tem consciência de sua finitude. Mas, ao mesmo tempo sabe-se imortal na figura de ambos os netos.

Os netos compreendem a plenitude do momento. Por isso, a pose solene. Quem os conhece no dia-a-dia, tão crianças levadas, têm a dimensão exata do que os move no momento do clique: solenidade e respeito. Investidos que estão do personagem - são representantes dos reis magos na folia de reis, são fardeiros, são guarda-mores e posam para a foto ao lado do avô - trazem o semblante suntuoso.

Embora datada, esta é uma imagem atemporal. É a representação do que chamamos rupturas e  permanência em história. A janela, pano de fundo, já não é de madeira tosca, traz o vidro e o metal em sua composição. A qualidade da imagem foi garantida pela luz elétrica e até mesmo pelos atributos da câmera (ruptura). Por outro lado, traz a representação de uma tradição presente na família há, pelo menos cinquenta anos e, na sociedade ocidental moderna, desde a Idade Média (permanência).

Esta é apenas uma leitura dessa imagem. Qual é a sua leitura? Escreva nos comentários abaixo as suas percepções.

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