Folia de Reis no interior de Minas Gerais - "Passos"

Passos é como são chamados os conjuntos de versos cantados pela Folia de Reis. Existe um para cada ocasião. 

O “Passo do Grande Dia” por exemplo, é cantado à porta, quando a folia chega na casa. Alguns alferes (donos da casa visitada) costumam exigir um Passo específico para determinada atenção. Por exemplo: “peço dois versos do Passo de São Francisco em intenção de todos que fazem parte dessa companhia”.

Os Passos são registrados em cadernos, os quais vão passando de mão em mão entre os mestres. Alguns são antigos, exaustivamente manuseados: 

Texto de um "Passo" (cópia literal das anotações de um mestre de Folia de Reis) recolhido no município de Santana de Pirapama (MG), em janeiro de 2016

PASSO DA CRIAÇÃO DO MUNDO

Em seis dias Deus criou o mundo

No sétimo descansava.

Com a sua mão sagrada

Suas obras abençoava.

No meio do Jardim

Uma Imagem aparecia.

Era um homem criado do nada

Adão chamaria.

Adão caiu no pecado

Com sua companheira.

A terra ficou maldita

Adão tinha que morrer.

Do seio do pai eterno

Quando o filho respondia.

E desceu do céu a terra

E Adão nos salvaria.

Nasceu como criança

E no mundo lhe crescia.

E aguentou a angustia do mundo

E muna cruz ele morria.

Na capela do paraizo

Quando o pai cazou Adão.

Unindo em matrimônio

E dando a santa benção.

Crescei e multiplicasse

E na terra o povo cresce.

Enquanto no sete selo divino

Nunca mais ele pecasse.

Crescei e multiplicaram

E a humanidade combinou.

No livro de sete selo

O diluvio decretou.

Noé entrava na arca

Com sua nobre família.

E as nuvens se abaixava

Só chuva que chovia.

Noé entrava na arca

Quando o mundo desluviava.

E uma toalha branca

No espaço já voava.

A água do dilúvio

Todos monte ela tampava.

E a arca de Noé

Sobre as agua ela boiava.

Pelo calor parte do sol

O vento que soprava.

Com música divina dos anjos

Atrás dela acompanhava.

Noé soltou um pombo

Pelo mundo ele voava.

Voltando com um ramo de oliveira

Que as águas já abaixava.

Soltou outro pombo

Para a arca não voltou.

Foi morar em uma gruta

Onde sua família criou.

Pelo um ano e três dias

Na arca ele habitava.

E a água do dilúvio

Num instante abaixava.

Noé saiu da arca

Em terra santa ele pisava.

Com a luz do arco íris

Pai eterno ele saudava.

Lá do alto do firmamento

Uma estrela verde brilhava.

E uma tábua da arca

Nesse instante desapregava.

Formou um violino

Que os anjos ali formava.

Foi com este violino

Que São Francisco tocava.

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