Folia de Reis no interior de Minas Gerais - 2ª parte


Nessa segunda parte continuamos a narrar uma janta de folia tal como costuma acontecer em localidades do município de Santana de Pirapama, interior do estado de Minas Gerais.


Se na casa tem presépio o canto do “Grande Dia” é interrompido em três momentos para que os representantes dos Reis Magos recitem “a Viagem”. Trata-se da narração de um trecho das escrituras sagradas.



Terminado essa etapa o alferes (dono da casa) abre a porta e é cumprimentado pelos foliões:

“Deus te salve, São José
 Deus te salve, o Menino nasceu.
 Deus te salve, o alferes
 Que no palácio nos recebeu.”

Ou ainda,

“Deus te salve, São José
 Deus te salve, Virgem Maria
 Deus te salve, oh! Alferes
 Com toda sua família”

 E inicia-se a cerimônia do presépio.
representação da Lapinha de Belém registrada em Mel Tanque, município de Santana de Pirapama (MG) em dezembro/2015
Presépio Típico

Presépio registrado na comunidade de Gerais, município de Santana de Pirapama (MG) em janeiro/2016
Outro presépio típico (mais moderno, com luzes pisca-pisca)

O representante dos Rei Melchior faz a sua saudação à estrela, segue um trecho de música. Em seguida, os representantes dos Reis Gaspar e Baltazar respectivamente fazem suas saudações à estrela, sendo que após cada saudação, a folia canta alguns versos. Enquanto fazem a sua saudação os guardas-mores (representantes dos reis) se dirigem ao presépio (também chamado desse instante de lapinha). Cada guarda-mor convida o seguinte e o último convida o restante dos foliões (cantores, instrumentistas) também chamado de “corpo pastor”. Chegados todos à lapinha, os três guardas-mores fazem a adoração do presépio, sempre seguidos de música.

Terminada a cerimônia do presépio, toca-se uma marcha, para a saída da lapinha; todos se dirigem a outro aposento onde prossegue a cantoria. São feitos pedidos de versos para várias intenções: do alferes, da rica-dona (dona da casa), dos parentes, dos amigos, dos convidados, etc... Quanto mais devoto (ou entusiasmado) for o Alferes, mais versos serão pedidos.

Em algum momento são pedidos votos para os falecidos. Falecidos da família do Alferes e da própria companhia (o grupo de foliões também é chamado companhia). Cada vez que se termina de cantar um verso, um dos guardas-mores solicita a todos que o ajudem a rezar um Pai-Nosso por intenção daquela alma. Quando o falecido é uma criança, é chamado “anjinho” e a oração solicitada é a Ave-Maria.

Durante o canto para falecidos os guardas-mores ficam ajoelhados, sendo que um deles segura uma vela acesa. As bengalas ficam em repouso e pouca ou nenhuma percussão é utilizada.


Um dos momentos mais aguardados é o da dança do lundum. É a oportunidade de os guardas-mores demonstrarem toda sua habilidade e criatividade na dança. O Alferes pede a dança, o guarda-mor finge um mal-estar só para não dançar. Mas, sempre se dança.










Continua em outro post

Comentários

  1. Muito bom. Obrigado pela postagem.
    Esperamos sua visita aqui em Desemboque MG no dia 21 de Agosto de 2016 no Encontro de folia de Reis.

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    Respostas
    1. Que bom que gostou, Ivo Resende. Farei o possível para comparecer.

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