Euterpe Centenária

Quando cheguei a Caetanópolis, há mais de uma década, algo me chamou a atenção desde o primeiro instante. Todas as tardes, após o trabalho, seguia para a Avenida Maestro Zé Bedeu, aquela que margeia o córrego Traíras e que é utilizada por boa parte dos moradores da cidade como pista de cooper. No afã de manter hábitos saudáveis, gastava meus passos ao longo da avenida e, durante o trajeto ia reencontrando amigos e fazendo novas amizades.

Ao longo do caminho meus ouvidos eram brindados a cada instante com um som diferente. E não era o soar das buzinas dos automóveis ou as conversas em torno dos portões. A trilha sonora das minhas caminhadas era composta por acordes, um tanto inseguros,  melodias, às vezes desafinadas, extraídas ora de clarinete, ora de um trompete. Quis saber mais sobre aquilo e então descobri que na minha nova cidade havia uma banda de música. Que também era uma escola. E que aqueles sons aleatórios que ouvia todas as tardes eram produzidos pelos alunos em seus deveres de casa.

Poucos meses depois chegou o convite. A Banda de Música Euterpe Santa Luzia convidava para seu concerto de final de ano. Eu, naturalmente, não perderia esse evento por nada. Como sempre, naquela sexta-feira saí bem tarde do trabalho. Mas, não me preocupei muito com isso, afinal, um concerto de banda de música de uma cidadezinha do interior não deve ser um evento muito concorrido, então, ainda que chegasse em cima da hora, seria fácil encontrar uma boa posição para apreciar o certame.

Concerto de Aniversário da Banda de Música Euterpe Santa Luzia, realizado no Clube da cidade em dezembro/2013

Qual não foi a minha surpresa ao encontrar o local lotado! Todas as cadeiras estavam ocupadas e algumas dezenas aguardavam, em pé, o início da apresentação. O jeito foi me misturar à multidão e encontrar um cantinho onde pudesse avistar minimamente o palco. As pessoas, em suas melhores roupas, comentavam o programa, composto por clássicos da música mundial e dobrados e valsas de autoria de músicos da banda. E, quando o espetáculo começou esqueci o incômodo de estar em pé e espremida. Era só enlevo!

Naquele exato instante decidi que Caetanópolis seria a cidade onde passaria a viver de modo definitivo.  Aqui educaria minha filha. Este era, sem dúvida, o cenário perfeito para os meus projetos de vida. Nem preciso dizer que minha filha frequentou as aulas de iniciação musical e tornou-se musicista da banda.

O ensino da música é tão importante que tornou-se obrigatório na educação básica, nas redes pública e particular, com a publicação da  Lei nº 11.769, no Diário Oficial da União no dia 19 de agosto de 2008. Todos nós sabemos que, infelizmente, embora tanto tempo tenha se passado desde a publicação da Lei, que previa o prazo de três anos para que a disciplina fosse incluída entre as obrigatórias na grade curricular em todas as escolas do território nacional, ainda são pouquíssimas as experiências bem sucedidas de ensino dessa disciplina no ensino regular.

Concerto de Aniversário da Banda de Música Euterpe Santa Luzia, realizado no Clube da cidade em dezembro/2013


Em Caetanópolis, a Banda de Música Euterpe Santa Luzia representa uma excelente oportunidade para as famílias que pretendem oferecer uma educação de qualidade para suas crianças e adolescentes. Ao longo do tempo, a escola de música vinculada à corporação musical formou gerações de músicos, oferecendo ensino de qualidade, contribuindo para a formação geral de seus alunos e preparando-os para cursos superiores de música.

O atual maestro da banda, Basílio Nascimento, é o exemplo mais pertinente da importância do trabalho de formação desenvolvido pela Euterpe. Nessa escola recebeu, a partir do ano de 2003, a  formação básica em Teoria Musical e Solfejo. Em 2011, Basílio concluiu o bacharelado em Música, com habilitação em Clarinete, pela Universidade do Estado de MInas Gerais (UEMG). Nos anos seguintes, atuou como professor em diferentes instituições até assumir, no início de 2016, a regência da Euterpe Santa Luzia.

No ano de 2009 apresentou-se como solista à frente da Banda de Música Euterpe Santa Luzia, o clarinetista Eduardo Gonçalves dos Santos, interpretando o Concerto para Clarinete e Orquestra de Wolfgang Amadeus Mozart, sob a regência do Maestro Valdomi Carneiro do Nascimento. Eduardo é doutorando em Execução Musical pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), mestre em Execução Musical também pela UFBA e bacharel em Clarinete pela UEMG. Atualmente, é professor na empresa Faculdade De Música Es e Clarinetista na empresa Orquestra Sinfônica do Estado do Espírito Santo. Os primeiros passos para a carreira de sucesso foram dados na escola de música da Euterpe Santa Luzia.

Esses são apenas dois exemplos, dentre inúmeros, de ex-alunos que seguiram carreira acadêmica. No entanto, há aqueles que, mesmo sem um curso superior na área, aproveitaram a sólida formação recebida para construir uma trajetória profissional de sucesso, compondo bandas de bailes renomadas ou mesmo seguindo carreira solo.

Neste 13 de dezembro de 2017, a Euterpe completa 100 anos de existência oficial. Dentre as atividades desenvolvidas para comemorar a data, está a publicação, em sua página no Facebook, de uma série de posts sobre fatos relevantes de sua história. Os comentários estão recheados de relatos orgulhosos de ex-alunos, o que comprova tudo o que foi dito acima.

Comentários

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