Neste 25 de novembro estive em Santana de Pirapama

Neste 25 de novembro estive em Santana de Pirapama. Não na Igreja Matriz - hoje elevada à categoria de Santuário - onde fui batizada, me casei, tive a minhas Missas de 15 anos, de formaturas e provavelmente será rezada a de sétimo dia. Tampouco estive na E.E “Cel. Domingos Diniz Couto”, onde estudei por longos anos e vivi parte de minha trajetória profissional.


A  manhã de sábado, passei na Escola Municipal “José Maria da Fonseca”. O convite era para uma Feira Literária. E qualquer evento ligado a livros e literatura é lugar onde gosto de estar. Desde o primeiro instante fui seduzida por aquele clima peculiar de escola, cheia de crianças e adolescentes, onde a cada instante somos convidados a aprender. Este foi o meu ambiente por tanto tempo! E mesmo depois de mais de uma década, a identificação é imediata. E assim, em poucos minutos me vejo coordenando um grupo de alunos na tarefa de decorar uma sala de aula.




Fui preparada para uma palestra; ou para dar o meu depoimento de leitora apaixonada. Por isso mesmo não estava pronta para o que me aguardava: ser a escritora homenageada de uma das turmas. Até mesmo porque ainda me falta muito para me tornar uma escritora. Desde muito cedo me apaixonei pelos livros. E, de tanto ler, era natural que meu principal meio manifestação fosse a palavra escrita. E foi assim que surgiram os primeiros versos, ainda na minha adolescência.

Anos depois reuni meus singelos poeminhas em um volume ao qual denominei “Devaneios”. Porque eles não passavam disso mesmo: devaneios de uma adolescente cheia de esperanças, misturada ao pó do caminho da escola, cujo sonho maior era vencer a pobreza e o isolamento.

Em todos aqueles anos de luta - caminhar por duas horas para chegar à escola, atravessar o Rio da Velhas de canoa, etc - tudo o que desejava era me formar, ter um emprego e conquistar minha independência financeira. É bem verdade que Dona Márcia, Dona Lenice e Dona Carminha, professoras de Geografia, História e Educação Moral e Cívica, respectivamente, deram um empurrãozinho forte quando me convenceram de que, de minha turma da quinta série do ano de 1986, poderia sair o(a)  futuro(a) presidente do Brasil.

Eu não me tornei presidente do nosso país. No entanto, descobri que poderia me tornar sujeita da minha própria história. O que isso significa? Fazer escolhas que promovam o meu desenvolvimento como ser humano e contribuam para o desenvolvimento daqueles que me cercam. Minha própria trajetória me faz acreditar na Educação como o verdadeiro instrumento de transformação social.

E neste último sábado essa minha certeza se tornou ainda mais sólida. “Devaneios”, o livro escrito por uma adolescente, foi declamado por adolescentes. E cada leitor começava a sua fala assim: “o poema com o qual me identifico é esse…”. Essa identificação ocorre porque, embora muito tempo tenha se passado, as dúvidas, os sonhos, as incertezas dos adolescentes de hoje não são diferentes dos meus quando escrevi os poemas. A adolescência é um tempo mais de perguntas do que de respostas.


Eu também me identifiquei com aqueles jovens. Assim como eu, eles são oriundos da zona rural. É verdade que agora chegam à escola de ônibus. No entanto, deixam suas casas, suas famílias e seus costumes diariamente pelo sonho de se formarem, ter uma profissão e independência financeira.

Mas é uma jovem em especial que me faz perceber que estou ali menos pelo que escrevi do que pela minha trajetória. É quando ela diz: “você é minha inspiração. Conheço sua história e sei que é possível para mim também”. Daiana é só uma menina; mas, já tem filho e marido. Ainda assim se mistura aos demais da sua idade, no afã de recuperar o tempo perdido e concluir a sua educação formal. Como eu no passado, também ela se levanta quando ainda está escuro. E vai driblando as dificuldades próprias de quem mora na roça e tem que se deslocar até a cidade para estudar. Olho em seus olhos e vejo esperança.

E assim, passado, presente e futuro vão se misturando em minhas vistas turvas pelas lágrimas. Valeu a pena meu passado de luta! Sou espelho para essa jovem que hoje constrói seu futuro.

Nem preciso dizer que minha manhã  foi de muita emoção! E de muitos reencontros. Reencontros com colegas da escola, reencontro com colegas de trabalho, amizades verdadeiras que não esmaeceram com o tempo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Caetanópolis, a terra de Clara Nunes

Folia de Reis no interior de Minas Gerais - "Passos"

Surpresa e emoção em romance do Wattpad