Uma reflexão comparativa entre os “Quatro Pilares da Educação” propostos pela UNESCO e os “Sete Saberes da Educação do Futuro”, expostos por Edgar Morin

           O texto de Edgar Morin, “Sete Saberes da Educação do Futuro”, introduz uma criativa reflexão no contexto das discussões sobre a educação para o século XXI, ao expor as cegueiras do conhecimento, o erro e a ilusão, os princípios do conhecimento pertinente e propor que a educação se ocupe de ensinar a condição humana, identidade terrena e a compreensão, além de enfrentar as incertezas e fortalecer a ética humana. A mesma preocupação aparece no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, no qual se propõe que a educação deve se apoiar em quatro pilares fundamentais ( aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser), uma vez que o papel da educação amplia-se consideravelmente diante do processo de globalização por que passa o planeta e que gera um clima de incertezas e angústias. Este trabalho tem o objetivo de apontar semelhanças entre os dois textos. Ambos reconhecem o papel fundamental da educação para o desenvolvimento humano. Mas, também demonstram que “uma educação só pode ser viável se for uma educação integral do ser humano. Uma educação que se dirige à totalidade aberta do ser humano e não apenas a um de seus componentes”


            Aprender a conhecer “visa não tanto a aquisição de um repertório de saberes codificados, mas antes o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento”. Isso pressupõe a compreensão pelo indivíduo do mundo que o rodeia de modo que ele possa viver com dignidade, se comunicar e se desenvolver profissionalmente. O conhecimento é múltiplo, vasto e evolui constantemente, daí não ser possível conhecer tudo. Por tanto, o indivíduo deve  aprender a buscar o conhecimento de que necessita, mais do que acumular informações desconexas. A cultura geral deve ser um contraponto à especialização na medida em que permite a comunicação, tendo em vista que ela se abre a outras linguagens e a outros conhecimentos. Assim, diminuiria os riscos do erro e da ilusão, próprios do conhecimento. Uma vez que conhecimento e afetividade são inseparáveis, aprender a conhecer significa entender que a afetividade pode pode afixar   o conhecimento, mas pode também fortalecê-lo.  

            Aprender a fazer  está diretamente relacionado à questão da formação profissional, como ensinar aos alunos a por em prática os seus conhecimentos e adaptar a educação ao trabalho futuro, ou seja, enfrentar as incertezas do mundo moderno, a incerteza irremediável da história humana, o futuro imprevisível. A educação do futuro deve se voltar para as incertezas ligadas ao conhecimento. Se o futuro é incerto, se o conhecimento gera incertezas, aprender a fazer não pode significar apenas se preparar para executar uma tarefa bem determinada, mas sim, adquirir competência para se qualificar continuamente, uma vez que as tarefas mudam muito rapidamente, as máquinas se tornam mais “inteligentes” e o trabalho se “desmaterializam”. “Qualidades como a capacidade de comunicar, de trabalhar com os outros, de gerir e de resolver conflitos, tornam-se cada vez mais importantes.”

            Aprender a viver juntos, a conviver, significa descobrir o outro, tender para objetivos comuns, como forma de evitar ou resolver conflitos latentes. Por isso, é tão necessário compreender a condição humana no mundo, aprender a “estar aqui” no planeta, ou seja, aprender a viver, a dividir, a comunicar, a comungar. Deve-se desenvolver a consciência antropológica, a consciência ecológica, a consciência cívica terrena, a consciência espiritual da condição humana. Por outro lado, deve-se também ensinar a compreensão: a compreensão intelectual ou objetiva e a compreensão humana intersubjetiva. A educação formal deve estar voltada para o enfrentamento dos obstáculos à compreensão: a indiferença, o egocentrismo, o etnocentrismo e sociocentrismo, o espírito redutor. Deve, ainda, reservar tempo para iniciar os jovens em projetos de cooperação.
           
            Aprender a ser  significa desenvolver-se integralmente: espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade. “Num mundo em mudança, de que um dos principais motores parece ser a inovação tanto social como econômica, deve ser dada importância especial à imaginação e à criatividade”. Isso significa revalorizar a cultura oral e os conhecimentos retirados da experiência da criança ou do adulto; assumir a condição humana indivíduo/sociedade/espécie ma complexidade do nosso ser; desenvolver a ética da solidariedade, da compreensão, do gênero humano. Ou seja, “estabelecer uma relação de controle mútuo entre a sociedade e os indivíduos pela democracia e conceber a Humanidade como comunidade planetária.”

            Os textos analisados demonstram que a globalização representa um desafio, “uma arena global na qual, gostemos ou não, é até certo ponto jogado o destino de cada indivíduo”. Reconhecem que à educação cabe fornecer os mapas de um mundo complexo e agitado, assinalar as referências que impeçam as pessoas de ficar submergidas na imensidão de informações e as levem a orientar-se para projetos de desenvolvimentos individuais e coletivos. Não são um conjunto de disciplinas a serem ensinadas. Expõem problemas centrais que não podem ser ignorados ou esquecidos, pois, são necessários para se ensinar nesses novos tempos. Propõem a concepção da educação como um todo, valorizando todas as formas de aprendizagem. Afirmam que a educação deve ocorrer ao longo de toda a vida, de modo permanente. Numa época marcada pela violência, pelas desigualdades, pelos conflitos, pela pobreza e, na qual, a própria sobrevivência da humanidade e do planeta encontra-se ameaçada pelo modelo de desenvolvimento adotado pela raça humana ao longo da história, a educação é defendida em ambos os textos como alternativa eficaz. Isso se se tornar mais holística, mais humana.


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